O ENCONTRO
Conheci-a por acaso. Fui a uma Repartição Pública a pedido de um amigo e lá a avistei por primeira vez.
Num imenso saguão de uma dessas suntuosas repartições federais, por trás de um balcão de granito rosado, vejo uma mulher de sorriso franco, dentes muito alvos e belos olhos marotos. Aproximo-me e ela se levanta. É alta, esguia e veste um vestido vermelho, solto, que vagamente delineia um corpo muito bem feito.
Penso:
- É uma falsa magra!
Ela pergunta:
- O que deseja, senhor?
A voz é agradável, as palavras bem articuladas, mas há algo mais que não consigo distinguir. Um convite?
Fico parado, observando-a. Aqueles olhos têm um brilho que me fascina; a pele é negra. Negra! Uma mulher negra! Nunca tinha me interessado por uma negra. Não por racismo, mas raramente convivi com elas. Sinto-me inquieto diante desta mulher. Tudo nela é exuberante, como essas modelos em dia de passarela, que rapidamente se transmudam de mulher fatal para anjo. Fico com as mãos suadas, o coração disparando, uma excitação crescente vindo de minhas entranhas, que há muito deixei de perceber. Não sei o que dizer nem o que fazer.
Novamente aquela voz e aqueles olhos:
- O que deseja, senhor?
O senhor me incomoda. Afinal quem está ali, perante aquela mulher exuberante, é pouco mais do que um adolescente, apesar de meus quase 60 anos.
- Ela ainda é jovem, penso, deve ter uns 35 anos (Ah! A década dos 30, quando as mulheres estão em toda sua plenitude!). Fico perdido num turbilhão de pensamentos e “saio do mundo”.
Outra vez a voz:
- O que deseja, senhor?
(Desejo a ti, teu sorriso, os teus olhos, tua boca, tua aparente alegria e descontração, o teu corpo. Desejo sair deste mundo sufocante que tenho vivido com uma mulher impenetrável para entrar em uma outra vida, cheia de contentamento e de riso fácil).
Preciso dizer algo. Tolamente pergunto onde fica o escritório do Dr. Fulano de tal. Ela olha mais uma vez para mim com aqueles olhos marotos, sorri, dá a informação e volta a sentar por detrás do balcão de granito rosado.
O peso dos quase 60 anos volta a tomar conta de meu corpo, e lentamente me dirijo para o elevador.
Nei Guimarães Machado
Oficina de Criação Literária
Março de 2006.
Conheci-a por acaso. Fui a uma Repartição Pública a pedido de um amigo e lá a avistei por primeira vez.
Num imenso saguão de uma dessas suntuosas repartições federais, por trás de um balcão de granito rosado, vejo uma mulher de sorriso franco, dentes muito alvos e belos olhos marotos. Aproximo-me e ela se levanta. É alta, esguia e veste um vestido vermelho, solto, que vagamente delineia um corpo muito bem feito.
Penso:
- É uma falsa magra!
Ela pergunta:
- O que deseja, senhor?
A voz é agradável, as palavras bem articuladas, mas há algo mais que não consigo distinguir. Um convite?
Fico parado, observando-a. Aqueles olhos têm um brilho que me fascina; a pele é negra. Negra! Uma mulher negra! Nunca tinha me interessado por uma negra. Não por racismo, mas raramente convivi com elas. Sinto-me inquieto diante desta mulher. Tudo nela é exuberante, como essas modelos em dia de passarela, que rapidamente se transmudam de mulher fatal para anjo. Fico com as mãos suadas, o coração disparando, uma excitação crescente vindo de minhas entranhas, que há muito deixei de perceber. Não sei o que dizer nem o que fazer.
Novamente aquela voz e aqueles olhos:
- O que deseja, senhor?
O senhor me incomoda. Afinal quem está ali, perante aquela mulher exuberante, é pouco mais do que um adolescente, apesar de meus quase 60 anos.
- Ela ainda é jovem, penso, deve ter uns 35 anos (Ah! A década dos 30, quando as mulheres estão em toda sua plenitude!). Fico perdido num turbilhão de pensamentos e “saio do mundo”.
Outra vez a voz:
- O que deseja, senhor?
(Desejo a ti, teu sorriso, os teus olhos, tua boca, tua aparente alegria e descontração, o teu corpo. Desejo sair deste mundo sufocante que tenho vivido com uma mulher impenetrável para entrar em uma outra vida, cheia de contentamento e de riso fácil).
Preciso dizer algo. Tolamente pergunto onde fica o escritório do Dr. Fulano de tal. Ela olha mais uma vez para mim com aqueles olhos marotos, sorri, dá a informação e volta a sentar por detrás do balcão de granito rosado.
O peso dos quase 60 anos volta a tomar conta de meu corpo, e lentamente me dirijo para o elevador.
Nei Guimarães Machado
Oficina de Criação Literária
Março de 2006.
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