Monday, August 27, 2007

SEXUALIDADE NA TERCEIRA IDADE.

Dr. Nei Guimarães Machado*

A sexualidade humana existe em todas as fases do desenvolvimento do indivíduo; não é uniforme durante toda a vida em termos de quantidade e qualidade, mas poderá ser sempre prazerosa. Temos observado, no entanto, que a sociedade ainda considera a sexualidade do idoso como algo inadequado ou, no mínimo, estranho. Para a maioria das pessoas, na terceira idade se é assexuado. Se uma mulher ficar viúva, é esperado que se case novamente para ter um companheiro que a ampare na velhice, diminuindo a responsabilidade dos familiares, jamais porque deseje um parceiro que a satisfaça sexualmente. O homem viúvo deverá buscar uma mulher que lhe seja prestativa em suas necessidades diárias, mas não para seus desejos sexuais. É por raciocínios assim que existe, ainda, uma crítica social severa quando pessoas idosas se casam com pessoas jovens. É inaceitável a idéia que o idoso possa ter desejos sexuais, bem como é inaceitável que uma pessoa jovem possa sentir encantamento ao se descobrir apaixonada por um idoso.
Nossa cultura tende a rotular o homem idoso como impotente e a mulher idosa como desprovida de atrativos físicos. Com esses rótulos são freqüentes homens e mulheres idosos sentirem-se incapazes para exercer sua sexualidade; no entanto, independente da impotência emocional ou orgânica, o desejo sexual se mantém presente. Como expressá-lo em meio a tantos preconceitos tem sido objeto de estudo mais recentemente. A partir da 2ª metade do século passado a sexualidade humana passou a ser discutida e vivenciada com maior liberdade. Homens e mulheres puderam descobrir a sua sexualidade e aprender a desenvolvê-la de diferentes maneiras. Temos observado que o medo de envelhecer freqüentemente está associado à repressão sexual que o idoso atual sofreu em sua juventude. A sexualidade sempre existirá na vida das pessoas e deve ser praticada por todos os indivíduos que assim o desejarem. Cada pessoa trará, para a velhice, sua história de vida, incluindo aí como vivenciou sua sexualidade. O que lhe trouxe satisfação na juventude e na idade adulta poderá seguir lhe trazendo na velhice, de acordo com suas capacidades físicas atuais.
Para muitos idosos o conceito de sexualidade se prende, ainda, à época em que sexo era assunto proibido para menores e “senhoras de respeito”. Temos visto, hoje, que sexo se transformou numa mercadoria que pode ser comercializada, invadindo a mídia e o marketing. Então, o idoso se vê premido entre a “repressão” do antigamente e o “liberou geral” de atualmente.
Um casamento sem vida sexual ajustada não sobrevive; a ligação sexual traz o indispensável elo afetivo. Na Terceira Idade temos de entender “vida sexual ajustada” não com a ótica da juventude, ou da idade adulta, onde o assim chamado “atletismo sexual” é o que é buscado, mas sim tendo aprendido a conhecer a enorme diferença que há entre a “natureza” sexual do homem e da mulher, saber exercê-la num clima muito mais afetivo, de carinho, sedução, toques suaves, abraços e beijos, como um preâmbulo prazeroso para a relação genital propriamente dita. Aprender a descobrir as necessidades do companheiro (a) é tornar a relação sexual um processo de conhecimento mútuo e, também, de autoconhecimento.
“O idoso precisa reaprender a descobrir seu corpo, sua sensualidade e sua sexualidade. A auto-estima precisa ser trabalhada, não se pode amar o outro se não existe amor pelo seu próprio ser e pelo seu próprio corpo. A mudança dos conceitos sociais é essencial para que a pessoa possa suportar as pressões sociais. E por fim, mas também de grande importância, o processo deve ser realizado pelo casal e não apenas por uma pessoa. Mesmo que a pessoa encontre um novo companheiro/a é necessário que exista uma conjunção de interesses na relação”.

*Médico Psiquiatra responsável pelo “Ambulatório de Transtornos Afetivos da Terceira Idade” do CETRES-UCPEL.
Publicado no Diário Popular de 14/07/02.

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