SOZINHO OU ACOMPANHADO?
O dilema de compartilhar a vida com outra pessoa, ou não, é uma dúvida bastante freqüente entre aqueles que já experimentaram, reiteradamente, os prazeres e desprazeres de vários, e diferentes, relacionamentos de casal ao longo dos anos, nem sempre com bons “resultados”.
O conflito tem duas faces: por um lado a necessidade humana de completar-se com o Outro através do amor e, por outro lado, a necessidade de evitar, a todo custo, a dor e o sofrimento. Estes dois aspectos se acham freqüentemente contrapostos naquelas pessoas que não foram muito afortunadas em matéria sentimental. A necessidade de amar e a necessidade de proteger-se acabam funcionando como uma gangorra. Quando a pessoa se separou predomina o “instinto de conservação”, a necessidade de não voltar a sofrer, a desconfiança, as más recordações e a idéia de que se está “muito melhor sozinho”. No entanto, com o passar do tempo começa a surgir, gradualmente, a necessidade de companhia, a sensação de solidão, as fantasias de uma nova relação idílica, a vontade de se apaixonar e, quando menos espera, volta a dar “o mau passo”.
Relacionar-se assim pode ser tão danoso quanto o consumo de drogas. A pessoa se relaciona por necessidade de companhia e não por amor; sabe que no passado a “droga” lhe fez mal, mas acredita não poder viver sem ela.
As relações de casal baseadas no medo de ficar só quase nunca terminam bem, porque criam uma situação patológica de dependência que acaba matando o amor.
O medo irracional é um dos piores inimigos do amor. Quando ele surge, lentamente vai deslocando o amor e o substituindo por uma série de normas rígidas (conscientes e/ou inconscientes) que “seguram” o amor metendo-o em um cercado para que não escape, p. ex.
- Nas sextas à noite não vais sair com teus amigos.
- Compete à mulher o cuidado dos filhos.
- Quando vierem amigos aqui em casa não podes beber muito.
- Não pode ir sozinha ao cinema.
- Se gostas de mim e me queres, não podes ter amiga.
- Não é normal uma mulher casada ter amigos
- Esta saia curta não pode usar.
Este tipo de normas para “segurar” o amor, é justamente as que o liquidam. A carga é muito pesada porque a relação é de “amo (a)/escrava (o)”.
A possibilidade de sofrer estando com alguém ou sozinho está sempre latente nas relações humanas, por isso nenhuma apólice de seguro cobre riscos contra “o mal do amor”.
Por tudo isso, a única recomendação possível é que apostemos no amor. No amor pelo Outro como ele é, com qualidades e defeitos, mas acima de tudo por ser o Outro, aquele que me complementa, pois “... só nos humanizamos com um outro ser humano...”. Não há nada na vida que valha mais do que o amor. Se alguma coisa quer ganhar, alguma coisa terá de arriscar. Amar é coisa de valentes; covardes abstenham-se!
Nei Guimarães Machado
Oficina de Criação Literária
agosto de 2004
O dilema de compartilhar a vida com outra pessoa, ou não, é uma dúvida bastante freqüente entre aqueles que já experimentaram, reiteradamente, os prazeres e desprazeres de vários, e diferentes, relacionamentos de casal ao longo dos anos, nem sempre com bons “resultados”.
O conflito tem duas faces: por um lado a necessidade humana de completar-se com o Outro através do amor e, por outro lado, a necessidade de evitar, a todo custo, a dor e o sofrimento. Estes dois aspectos se acham freqüentemente contrapostos naquelas pessoas que não foram muito afortunadas em matéria sentimental. A necessidade de amar e a necessidade de proteger-se acabam funcionando como uma gangorra. Quando a pessoa se separou predomina o “instinto de conservação”, a necessidade de não voltar a sofrer, a desconfiança, as más recordações e a idéia de que se está “muito melhor sozinho”. No entanto, com o passar do tempo começa a surgir, gradualmente, a necessidade de companhia, a sensação de solidão, as fantasias de uma nova relação idílica, a vontade de se apaixonar e, quando menos espera, volta a dar “o mau passo”.
Relacionar-se assim pode ser tão danoso quanto o consumo de drogas. A pessoa se relaciona por necessidade de companhia e não por amor; sabe que no passado a “droga” lhe fez mal, mas acredita não poder viver sem ela.
As relações de casal baseadas no medo de ficar só quase nunca terminam bem, porque criam uma situação patológica de dependência que acaba matando o amor.
O medo irracional é um dos piores inimigos do amor. Quando ele surge, lentamente vai deslocando o amor e o substituindo por uma série de normas rígidas (conscientes e/ou inconscientes) que “seguram” o amor metendo-o em um cercado para que não escape, p. ex.
- Nas sextas à noite não vais sair com teus amigos.
- Compete à mulher o cuidado dos filhos.
- Quando vierem amigos aqui em casa não podes beber muito.
- Não pode ir sozinha ao cinema.
- Se gostas de mim e me queres, não podes ter amiga.
- Não é normal uma mulher casada ter amigos
- Esta saia curta não pode usar.
Este tipo de normas para “segurar” o amor, é justamente as que o liquidam. A carga é muito pesada porque a relação é de “amo (a)/escrava (o)”.
A possibilidade de sofrer estando com alguém ou sozinho está sempre latente nas relações humanas, por isso nenhuma apólice de seguro cobre riscos contra “o mal do amor”.
Por tudo isso, a única recomendação possível é que apostemos no amor. No amor pelo Outro como ele é, com qualidades e defeitos, mas acima de tudo por ser o Outro, aquele que me complementa, pois “... só nos humanizamos com um outro ser humano...”. Não há nada na vida que valha mais do que o amor. Se alguma coisa quer ganhar, alguma coisa terá de arriscar. Amar é coisa de valentes; covardes abstenham-se!
Nei Guimarães Machado
Oficina de Criação Literária
agosto de 2004
2 Comments:
Ney, amar é coisa pra gente valente mesmo. Não é fácil, mas é bom e o único sentimento que nos revitaliza.
Parabéns pelo teu blog. Andava meio atrapalhada, por isso não tinha visto.
Texto maravilhoso. Irretocável.
E remete ao Drummond:
"Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas, doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita"
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