UMA RELEITURA PARA “EL JARDIN DE SENDEROS QUE SE BIFURCAN”.
Voltemos no tempo, para cinco anos antes dos fatos narrados em “El Jardin de Senderos que se bifurcan”.
Yu Tsun, vindo da Colônia Britânica de Hog Kong, desembarca em Londres.
Filho de um rico empresário do ramo da construção civil havia sido nomeado para um cargo burocrático no Ministério do Interior por ter mãe britânica e, também, haver se destacado como estudioso de “História Contemporânea”.
O que poucos sabiam é que Yu Tsun guardava um segredo. Estudara História para conhecer melhor sua origem chinesa. Considerava os ingleses uma raça inferior, uns “bárbaros” que dominavam o mundo pela força da espada. Os antepassados paternos teriam sido sábios a serviço do Imperador. Isso marcara sua infância, com fantasias de vir a ser, também, um grande “conselheiro do rei”.
Uma mente dividida entre a admiração ao pai e o desprezo pela mãe era terreno fértil para se deixar influenciar. Por essa época, início do século XX, o Império Alemão era o que mais se aproximava das antigas glórias orientais. Cultura, sofisticação, rápido crescimento econômico e desejos hegemônicos sobre a Europa fascinavam Yu Tsun. Foi fácil para a Inteligência alemã convencê-lo a se tornar um colaborador, uma maneira suave de dizer espião.
Ao chegar a Londres instala-se em um pequeno hotel, em Charing Cross, que fica perto do Whitehall, onde se erguem os Ministérios das Relações Exteriores, das Colônias, da Índia e do Interior. Lugar estratégico, pois pode se deslocar a maior parte do tempo a pé, passando-se discretamente por um transeunte comum (já por essa época havia muitos chineses em Londres). Mais ao norte levanta-se o Museu Britânico, imenso depósito de tesouros, onde Yu Tsun pode ver quanto os ingleses, em suas conquistas pelo mundo, roubaram os países conquistados. Usava isso como uma espécie de justificativa para o que estava fazendo.
Seu trabalho, no Departamento de História do Ministério do Interior, consistia em compilar as notícias dos diversos jornais europeus que ai chegavam e interpretar, para seu chefe imediato, capitão Richard Madden, se o Império Alemão constituía um risco para o Império Britânico. No entanto, através desse mesmo sistema, ia “plantando” pequenas notícias nos jornais londrinos, que seu Chefe, em Berlim, decodificava como informação estratégica para o Ministério da Guerra.
Durante três anos suas atividades foram discretas, sem levantar suspeita alguma. Era um homem de hábitos simples, silencioso, cumpridor de horários, o que encantava seu chefe, um irlandês que, para ser aceito entre seus colegas de Ministério, era mais “inglês” do que os ingleses. Em 1914, a partir dos acontecimentos de Sarajevo, eclode a Grande Guerra. É a oportunidade que Yu Tsun esperava! Tem de mostrar ao Chefe que podia ser útil à causa alemã. Associa-se a outro espião, Viktor Runeberg, e começa a enviar relatórios para o Ministério da Guerra germânico. Ao ficar mais agitado, perde um pouco de sua discrição e começa a levantar suspeita. Em 1916, por ocasião de uma grande ofensiva que as tropas britânicas iriam desencadear, Richard Madden desconfia de sua movimentação e começa a seguir Yu Tsun. Descobre a ligação com Viktor Runeberg, que é morto ao tentar fugir, e sai ao encalço “do chinês traidor”. O resto vocês sabem através da leitura do conto de Jorge Luis Borges, “El jardin de senderos que se bifurcan”.
Nei Guimarães Machado / Oficina de Criação Literária / Março de 2004
Voltemos no tempo, para cinco anos antes dos fatos narrados em “El Jardin de Senderos que se bifurcan”.
Yu Tsun, vindo da Colônia Britânica de Hog Kong, desembarca em Londres.
Filho de um rico empresário do ramo da construção civil havia sido nomeado para um cargo burocrático no Ministério do Interior por ter mãe britânica e, também, haver se destacado como estudioso de “História Contemporânea”.
O que poucos sabiam é que Yu Tsun guardava um segredo. Estudara História para conhecer melhor sua origem chinesa. Considerava os ingleses uma raça inferior, uns “bárbaros” que dominavam o mundo pela força da espada. Os antepassados paternos teriam sido sábios a serviço do Imperador. Isso marcara sua infância, com fantasias de vir a ser, também, um grande “conselheiro do rei”.
Uma mente dividida entre a admiração ao pai e o desprezo pela mãe era terreno fértil para se deixar influenciar. Por essa época, início do século XX, o Império Alemão era o que mais se aproximava das antigas glórias orientais. Cultura, sofisticação, rápido crescimento econômico e desejos hegemônicos sobre a Europa fascinavam Yu Tsun. Foi fácil para a Inteligência alemã convencê-lo a se tornar um colaborador, uma maneira suave de dizer espião.
Ao chegar a Londres instala-se em um pequeno hotel, em Charing Cross, que fica perto do Whitehall, onde se erguem os Ministérios das Relações Exteriores, das Colônias, da Índia e do Interior. Lugar estratégico, pois pode se deslocar a maior parte do tempo a pé, passando-se discretamente por um transeunte comum (já por essa época havia muitos chineses em Londres). Mais ao norte levanta-se o Museu Britânico, imenso depósito de tesouros, onde Yu Tsun pode ver quanto os ingleses, em suas conquistas pelo mundo, roubaram os países conquistados. Usava isso como uma espécie de justificativa para o que estava fazendo.
Seu trabalho, no Departamento de História do Ministério do Interior, consistia em compilar as notícias dos diversos jornais europeus que ai chegavam e interpretar, para seu chefe imediato, capitão Richard Madden, se o Império Alemão constituía um risco para o Império Britânico. No entanto, através desse mesmo sistema, ia “plantando” pequenas notícias nos jornais londrinos, que seu Chefe, em Berlim, decodificava como informação estratégica para o Ministério da Guerra.
Durante três anos suas atividades foram discretas, sem levantar suspeita alguma. Era um homem de hábitos simples, silencioso, cumpridor de horários, o que encantava seu chefe, um irlandês que, para ser aceito entre seus colegas de Ministério, era mais “inglês” do que os ingleses. Em 1914, a partir dos acontecimentos de Sarajevo, eclode a Grande Guerra. É a oportunidade que Yu Tsun esperava! Tem de mostrar ao Chefe que podia ser útil à causa alemã. Associa-se a outro espião, Viktor Runeberg, e começa a enviar relatórios para o Ministério da Guerra germânico. Ao ficar mais agitado, perde um pouco de sua discrição e começa a levantar suspeita. Em 1916, por ocasião de uma grande ofensiva que as tropas britânicas iriam desencadear, Richard Madden desconfia de sua movimentação e começa a seguir Yu Tsun. Descobre a ligação com Viktor Runeberg, que é morto ao tentar fugir, e sai ao encalço “do chinês traidor”. O resto vocês sabem através da leitura do conto de Jorge Luis Borges, “El jardin de senderos que se bifurcan”.
Nei Guimarães Machado / Oficina de Criação Literária / Março de 2004
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