BOLOTAS
Recentemente tornado membro das Nações Unidas, esse país surgiu após o cataclismo que inundou a parte meridional do Brasil.
O relevo é quase todo plano e alagadiço, havendo uma única montanha, conhecida como Cerro das Almas. É cortado por um rio, que não é rio, pois liga duas lagoas, ambivalente como os habitantes de Bolotas, pois ora corre para um lado, ora para o outro. Essa característica se reflete na política, também, pois a maioria gosta de dizer que é amigo, ou conhecido, de quem está momentaneamente no poder.
Com pouco mais de 250 quilômetros quadrados, abriga uma população formada predominantemente por “homens-rãs”, não por usarem roupas de mergulhador, mas terem desenvolvido características anfíbias (guelras, p.ex.), vivendo tantos séculos num ambiente de umidade quase constante.
São quase 400 mil habitantes, onde predominam as mulheres. Quase todas do tipo “fálico” (como diriam os expertos em Psicanálise, que são muitos!): mandam e os homens obedecem. Para elas a cultura e os altos cargos; para eles, o trabalho braçal. Por não se entenderem, com intensa inveja uns dos outros, desenvolveram uma forma de comunicação sui generis: a incomunicabilidade!
O regime político é a “democracia da fofoca”: todos têm direitos iguais de falar mal de todo mundo.
A economia do país está cada vez menor; o alagamento tem prejudicado sistematicamente as colheitas, só sobrando os serviços de bufês das festas dos socialites. Quase todos falidos, mas mesmo assim muito festeiros.
Possuindo três universidades, sua produção científica, com uma rara exceção, é pífia. O nível de cultura da população, em geral, é bom, até porque gostam muito de ler crônica social.
O futuro é incerto, pois como até hoje não conseguiu construir um shopping center sequer, teme-se que desapareça definitivamente na próxima enchente.
Nei Guimarães Machado
Rio, junho de 2011.
1 Comments:
Ótimo, pai!
Não sei por que, fiquei com a impressão de que conheço este país...
Filipe
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