Saturday, May 17, 2008

SIGMUND FREUD: ALGUNS ASPECTOS DA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA.


A primavera, com seu sopro de renovação, rejuvenescia as colinas verdejantes que cercavam Freiberg, uma pequena cidade da Morávia, parte integrante do vasto império Austro-Húngaro.
Num final de tarde tranqüila do dia 06 de maio de 1856, Amalie Freud, uma jovem senhora de 20 anos, subitamente ficou pálida, começou a suar e, virando-se para seu marido, Herr Jakob Freud, disse:
- Está na hora.
Foi assim que nasceu um menino forte e saudável, cheio de cabelos negros e com a cabeça envolvida pela membrana amniótica, um sinal de bom augúrio, segundo um grupo de ciganos que acampavam perto daquela casinha situada na Rua Schlossergasse, nº. 117.
Recebeu do pai, o nome de Sigismundo, mais tarde mudado para Sigmund. Herr Jakob, então com 40 anos, já tinha dois filhos adultos, Emmanuel e Phillip, de um primeiro casamento. Muito orgulhoso, dizia aos vizinhos: - é parecido comigo e como nasceu com o “véu” vai ser um sujeito de grande sorte, um predestinado. Mal sabia Herr Jakob que assim seria!
O pai de Freud não teve tanta “sorte” assim, pois uma grande recessão, conseqüência de uma guerra desastrada entre Áustria e Itália, fez com que seus negócios do comércio de lãs fossem à ruína. Também o nacionalismo tcheco começava a se manifestar e sendo Herr Jakob um judeu-alemão, não era mais bem visto naquela pequena comunidade. Tiveram, então, de migrar. Inicialmente se instalaram por um breve tempo em Leipzig e, em seguida, se fixaram em Viena. Freud tinha, nessa ocasião, pouco mais de três anos. Os irmãos mais velhos foram para a Inglaterra onde, em Manchester, se tornaram prósperos tecelões.
Cresceu um menino quieto e sossegado, o preferido da mãe, que o chamava de “meu pretinho”. Anos mais tarde, já adulto e consagrado como Psicanalista, estudando o “complexo de inferioridade”, uma idéia de Adler que Freud contestava, disse: “... uma criança (ou adulto) sente-se inferior quando verifica que não é, ou não foi suficientemente amada...”. Ele, certamente, nunca se sentiu “inferior”, com baixa auto-estima como diríamos hoje, pois foi muito amado pelos pais e, mais tarde, pelos seus discípulos.
Em Viena, como filho mais velho, teve alguns “privilégios”: um quartinho só para ele, e livros. Herr Jacob, um autodidata, sempre estimulou Sigmund à leitura e, com grande sacrifício, conseguia comprar-lhe livros.
Neste quarto, que tanto significado teve em sua vida, Freud aprendeu a viver sozinho afastado do barulho das irmãs e dos inconvenientes da numerosa família.
No período que vai de 1895 a 1904, quando a ciência oficial de Viena lhe virou as costas, escrevendo para o amigo Fliess, chamou esta etapa de “esplendido isolamento”, uma referência, certamente, a seu quartinho da infância e adolescência.
O fato de o pai ter considerado-o diferente dos outros filhos, reforçou mais ainda sua autoconfiança fazendo com que se sentisse um predestinado. Um “general”, como seus ídolos Alexandre e Aníbal, que ainda iria ter grandes glórias.
Gostava de estudar e, especialmente, de aprender línguas. Orientado pelo pai começou a ler os clássicos alemães, Goethe em primeiro lugar, que foram decisivos em sua formação intelectual. Aos oito anos lia, também, Shakespeare e Dickens no original. Toda essa dedicação aos estudos e à leitura foi fundamental para sua aprovação no Sperl Gymnasium, o que ocorreu quando tinha nove anos, um ano a menos do que a idade normal para ingressar no ginásio.
Em junho de 1873 Sigmund Freud graduou-se com distinção summa cum laude, o que muito alegrou Herr Jakob, pois havia contraído muitas dívidas com diversas livrarias de Viena para beneficio daquele filho que tanto amava.
Indeciso quanto à carreira a seguir (ora pensava em Direito, ora em Medicina), viu-se inclinado à última após ler A Origem das Espécies, de Darwin, e ouvir uma conferência popular, pronunciada pelo Prof. Carl Brühl, que leu um ensaio de Goethe sobre a Natureza.
Sob o efeito dessas impressões, em outubro de 1873 matriculou-se na Universidade de Viena para o Curso de Medicina. Começava, então, a grande e brilhante carreira de Cientista, Médico e Psicólogo, que faria de Sigmund Freud, juntamente com Copérnico e Darwin, um dos três grandes homens que abalaram os alicerces da Humanidade.

Dr. Nei Guimarães Machado
Médico Psiquiatra.
Maio de 2006.

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