Comentário sobre o filme: “Brutalidade”.
Clássico de “filmes de prisão”, segundo trabalho do já astro Burt Lancaster - havia estreado em 1946 no filme “Os Assassinos” -, mostra a realidade brutal e violenta de uma prisão dos anos 40, nos Estados Unidos.
Algo não muito diferente do que ocorre hoje nas prisões brasileiras!
Numa cela onde vivem seis homens (deveria ser para dois, apenas), liderados por um gangster de nome Joe Collins (Burt Lancaster), tramam um motim, e fuga, como meio de se rebelarem das atitudes sádicas e violentas do Capitão Munsey (Hume Cronyn), chefe da guarda da prisão. Paralelamente, as histórias de cada um são mostradas em flashback, onde se podem ver suas origens, motivações de estarem presos, amores que deixaram fora da cadeia, etc.
Este é o roteiro básico do filme, feito por Richard Brooks, baseado em um artigo de jornal.
Para ser levado às telas tiveram de haver longas negociações com a censura da época, pois mostrar a realidade violenta e brutal (cena de espancamento, p.ex.) era coisa proibida pelo famoso “Código H”.
O verdadeiro autor do filme é o produtor, antigo jornalista, Mark Hellinger, que brigava sempre por realismo em suas fitas.
Direção segura do norte americano Jules Dassin, que pouco depois seria banido de Hollywood pela cruzada anticomunista do Macarthismo, mostra o tom exato de desesperança, de um grupo de pessoas (delinqüentes) que vivem apinhadas em uma cela. A metáfora de abandono é vista através de um velho calendário com o rosto de uma moça que, sintomaticamente, parece estar morta. Mostra, ainda, o sadismo dos “agentes da lei”, através da figura do Capitão que espanca presos ao som de Wagner.
Por sinal este mesmo autor musical foi usado pelo nazismo de Hitler e pelos norte-americanos na guerra do Vietnam.
Tanto prisioneiros como alguns guardas seriam classificados como “psicopatas”.
O que significa isso? A psicopatia consiste num conjunto de comportamentos e traços de personalidade específicos. À primeira vista pessoas encantadoras (Dr. Hannibal Lecter, p.ex.), causam boa impressão e são tidas como “normais” pelos que as conhecem superficialmente. No entanto, com freqüência são egocêntricas, desonestas e indignas de confiança. Adotam comportamentos irresponsáveis sem razão aparente, exceto pelo fato de se divertirem com o sofrimento alheio (o Capitão dos guardas por um lado, mas alguns dos prisioneiros também). De um modo geral não sentem culpa e, nos relacionamentos amorosos são insensíveis e detestam compromisso. Usam maciçamente o mecanismo psicológico da projeção, culpando os outros, ou a sociedade, pelos seus deslizes. Não aprendem com seus erros e, também, não conseguem frear os impulsos mais primitivos (agressivos e sexuais).
Estudos americanos indicam que um terço dos indivíduos que estão nas prisões seriam psicopatas.
Surpreendentemente a grande maioria está fora das grades; muitos são bem sucedidos profissionalmente, ocupando lugar de destaque na política, nos negócios ou nas artes.
A maioria dos psicopatas são homens, mas ainda se desconhece os motivos para essa desproporção entre os sexos.
Alguns mitos sobre os psicopatas precisam ser desfeitos: nem todos são violentos, nem todos sofrem de psicoses e, finalmente, alguns são passíveis de tratamento. P.ex.: no seriado Família Soprano, Dra. Melfi, a psiquiatra que acompanha o mafioso Tony Soprano, encerra o tratamento psicoterápico porque um colega a convence de que o paciente era um psicopata clássico e, portanto, intratável. Diversos comportamentos de Tony, entretanto, como a lealdade à família e o apego emocional a um grupo de patos que ocuparam a sua piscina, tornam a decisão da terapeuta injustificável.
Como os bons vinhos, o filme envelheceu muito bem, pois segue atual, como um drama realista e perturbador, passados já 60 anos de sua realização.
Nei Guimarães Machado
“Oficina de Cinema” – CETRES
Abril de 2008.
Clássico de “filmes de prisão”, segundo trabalho do já astro Burt Lancaster - havia estreado em 1946 no filme “Os Assassinos” -, mostra a realidade brutal e violenta de uma prisão dos anos 40, nos Estados Unidos.
Algo não muito diferente do que ocorre hoje nas prisões brasileiras!
Numa cela onde vivem seis homens (deveria ser para dois, apenas), liderados por um gangster de nome Joe Collins (Burt Lancaster), tramam um motim, e fuga, como meio de se rebelarem das atitudes sádicas e violentas do Capitão Munsey (Hume Cronyn), chefe da guarda da prisão. Paralelamente, as histórias de cada um são mostradas em flashback, onde se podem ver suas origens, motivações de estarem presos, amores que deixaram fora da cadeia, etc.
Este é o roteiro básico do filme, feito por Richard Brooks, baseado em um artigo de jornal.
Para ser levado às telas tiveram de haver longas negociações com a censura da época, pois mostrar a realidade violenta e brutal (cena de espancamento, p.ex.) era coisa proibida pelo famoso “Código H”.
O verdadeiro autor do filme é o produtor, antigo jornalista, Mark Hellinger, que brigava sempre por realismo em suas fitas.
Direção segura do norte americano Jules Dassin, que pouco depois seria banido de Hollywood pela cruzada anticomunista do Macarthismo, mostra o tom exato de desesperança, de um grupo de pessoas (delinqüentes) que vivem apinhadas em uma cela. A metáfora de abandono é vista através de um velho calendário com o rosto de uma moça que, sintomaticamente, parece estar morta. Mostra, ainda, o sadismo dos “agentes da lei”, através da figura do Capitão que espanca presos ao som de Wagner.
Por sinal este mesmo autor musical foi usado pelo nazismo de Hitler e pelos norte-americanos na guerra do Vietnam.
Tanto prisioneiros como alguns guardas seriam classificados como “psicopatas”.
O que significa isso? A psicopatia consiste num conjunto de comportamentos e traços de personalidade específicos. À primeira vista pessoas encantadoras (Dr. Hannibal Lecter, p.ex.), causam boa impressão e são tidas como “normais” pelos que as conhecem superficialmente. No entanto, com freqüência são egocêntricas, desonestas e indignas de confiança. Adotam comportamentos irresponsáveis sem razão aparente, exceto pelo fato de se divertirem com o sofrimento alheio (o Capitão dos guardas por um lado, mas alguns dos prisioneiros também). De um modo geral não sentem culpa e, nos relacionamentos amorosos são insensíveis e detestam compromisso. Usam maciçamente o mecanismo psicológico da projeção, culpando os outros, ou a sociedade, pelos seus deslizes. Não aprendem com seus erros e, também, não conseguem frear os impulsos mais primitivos (agressivos e sexuais).
Estudos americanos indicam que um terço dos indivíduos que estão nas prisões seriam psicopatas.
Surpreendentemente a grande maioria está fora das grades; muitos são bem sucedidos profissionalmente, ocupando lugar de destaque na política, nos negócios ou nas artes.
A maioria dos psicopatas são homens, mas ainda se desconhece os motivos para essa desproporção entre os sexos.
Alguns mitos sobre os psicopatas precisam ser desfeitos: nem todos são violentos, nem todos sofrem de psicoses e, finalmente, alguns são passíveis de tratamento. P.ex.: no seriado Família Soprano, Dra. Melfi, a psiquiatra que acompanha o mafioso Tony Soprano, encerra o tratamento psicoterápico porque um colega a convence de que o paciente era um psicopata clássico e, portanto, intratável. Diversos comportamentos de Tony, entretanto, como a lealdade à família e o apego emocional a um grupo de patos que ocuparam a sua piscina, tornam a decisão da terapeuta injustificável.
Como os bons vinhos, o filme envelheceu muito bem, pois segue atual, como um drama realista e perturbador, passados já 60 anos de sua realização.
Nei Guimarães Machado
“Oficina de Cinema” – CETRES
Abril de 2008.
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