Dr. Nei Guimarães Machado*
A idade modifica nosso relacionamento com o tempo. À medida que os anos vão passando vai-se encurtando o nosso futuro, enquanto o passado vai se carregando. As conseqüências dessa alteração repercutem umas sobre as outras, para gerarem uma situação variável segundo a história pregressa de cada indivíduo.
A adaptação à velhice é alguma coisa de muito delicada e depende, em grande parte, da personalidade prévia. “A gente envelhece tal como viveu” (Ajuriaguerra).
Bromlly, em seu livro “The Psychology of the Human Ageins”, nos descreve cinco tipos básicos de estratégias de ajustamento à velhice:
1. Continuar na velhice a ser “construtivo”.
A mais eficiente das estratégias. Constitui-se em uma continuação, na velhice, de uma atividade produtiva orientada para o futuro. O velho apresenta auto-estima alta, costuma olhar par sua vida passada com aprovação e pouco reparo, vive o que está por vir com otimismo e aceita o envelhecimento quase sem dar-se conta de que o tempo passou.
2. Continuar na velhice a ser “dependente”.
Uma estratégia que ainda resulta num “bem envelhecer”. É a continuação de um “estilo de vida” que se constituiu, sempre, em uma passiva tolerância para com as outras pessoas, oportunismo, e um contínuo evitar situações que pudessem produzir um distúrbio em sua segurança e conforto. Ao envelhecer fazem um bom conceito de si próprios e de suas qualidades e ações, se mostram satisfeitos com o mundo, não são ansiosos, mas tendem a ser super otimistas e pouco práticos.
3. Continuar na “defensiva”.
Esta estratégia já apresenta uma adaptação menos aceitável à velhice. Constituem um grupo heterogêneo, geralmente super controlados, convencionais e compulsivamente ativos. Em suas histórias de vida têm bom ajustamento ao trabalho e às ocupações; com isso tendem a ser auto-suficiente, recusando ajuda, para provar aos outros, e a eles mesmos, que não são dependentes, o que acaba trazendo, na velhice, medo à dependência e à inatividade. Vêem poucas compensações na velhice e têm inveja dos jovens. Para negar a pouca vida que lhes resta e a possibilidade da morte próxima, mantêm-se sempre ocupados com tarefas rotineiras feitas com esmero.
4. “Hostilidade”.
Caracterizada por “homens e mulheres hostis”, tendem a colocar nos outros suas próprias falhas, com uma visão irrealista sobre si mesmos e sobre o mundo. Expressam uma forte aversão à velhice, rejeitando tornarem-se criativos e dependentes dos outros, reagindo a isso agressivamente. Na velhice mostram ansiedade, pessimismo, depressão, sentimentos de culpa, falta de ambição. Não se conformam em “ser velho”, não vêem nada de bom nesta etapa da vida, apresentam medo da morte.
5. “Self-hate”.
Esta estratégia diferencia-se da anterior por estar a hostilidade voltada contra si mesmo. É o velho que nunca esteve satisfeito com sua vida e a desejaria viver de novo, reformulada. Pode aceitar a velhice, mas não o faz de maneira hábil, tendendo a exagerar suas incapacidades físicas e psicológicas. Geralmente são pessimistas, não acreditando que a própria pessoa possa influenciar em sua vida, sentindo-se eles próprios vítimas das circunstâncias. A morte não os assusta, sendo considerada mais bem como um ato de misericórdia para sua existência insatisfatória.
Cada uma dessas estratégias apresenta pontos comuns umas com as outras, pois cada episódio crítico, em qualquer etapa da vida, necessita de novos ajustamentos.
Finalizando direi que o ajustamento à velhice é possível sim desde que o idoso saiba aceitar sua idade, saiba abandonar seu campo de trabalho ou de ação ainda permanecendo ativo, saiba reagrupar suas forças em torno de outras atividades, por vezes novas e altamente criativas, adaptando-se a um novo tipo de vida. Saiba aceitar, sem ressentimentos, a atitude dos que o rodeiam diante de suas dificuldades, principalmente físicas e/ou mentais, colaborando, na medida de suas possibilidades com as novas gerações. Ao fazer isso, conseguirá, sem dúvida, um lugar de destaque no grupo humano ao qual pertence.
Esse seria um idoso (a) emocionalmente estável e adaptado (a) a essa nova etapa da vida, pois a Vida é para ser vivida, e apreciada, até o fim!
*Médico-Psiquiatra responsável pelo “Ambulatório de Transtornos Afetivos na Terceira Idade” do CETRES/UCPEL.
Publicado no Diário Popular em 09 e 16/03/2004